(Passeata dos Cem mil na Cinelândia... Junho de 1968 e 2013)
"Fotografia - é o codinome
da mais aguda percepção
que a nós mesmos nos vai mostrando
e da evanescência de tudo,
edifica uma permanência,
cristal do tempo no papel.
Das luas de rua no Rio
em 68, que nos resta
mais positivo, mais queimante
do que as fotos acusadoras,
tão vivas hoje como então,
a lembrar como a exorcizar?
Marcas de enchente e do despejo,
o cadáver inseputável,
o colchão atirado ao vento,
a lodosa, podre favela,
o mendigo de Nova York
a moça em flor no Jóquei Clube,
Garrincha e nureyev, dança
de dois destinos, mães-de-santo
na praia-templo de Ipanema,
a dama estranha de Ouro Preto,
a dor da América Latina,
mitos não são, pois são fotos.
(...)"
- Carlos Drummond de Andrade
Em 1968 Cem mil pessoas foram a rua protestar contra a Ditadura militar que estava acontecendo no Brasil.
Estudantes e Intelectuais acirraram os ânimos, quando o comandante da PM matou o Secundarista Edson Luís de Lima Souto, de 18 anos, na invasão do restaurante universitário "Calabouço", onde os estudantes protestavam contra a elevação do preço das refeições. (COMO SEMPRE A POLICIA REACIONÁRIA AGIU DE FORMA BRUTA)
No início de junho de 1968, o movimento estudantil começou a organizar um número cada vez maior de manifestações públicas, assim como em 2013, que em cada protesto nas cidades iam aumentando o número de manifestantes, no dia 18 de junho, uma passeata, que terminou no Palácio da Cultura, resultou na prisão do líder estudantil, Jean Marc. No dia seguinte, o movimento se reuniu na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e organizou um novo protesto para pedir a libertação de Jean e de outros alunos presos. Mas o resultado foi de 300 estudantes presos, ao final da assembleia.
Três dias depois aconteceu a "Sexta-Feira Sangrenta", uma manifestação estudantil, em frente a embaixada dos EUA, que terminou com 28 mortos, centenas de feridos, mil presos e 15 viaturas da polícia incendiadas.
Diante do episódio, que teve uma repercussão negativa os militares aceitaram uma manifestação estudantil, marcada para o dia 26 de Junho.
Pela manhã os participantes já tomavam as ruas da Cinelândia (Centro do Rio de Janeiro)
Além dos estudantes, também artistas, intelectuais, políticos e outros segmentos da sociedade civil brasileira engrossaram a passeata, tornando-a uma das maiores e mais expressivas manifestações populares da história republicana brasileira.
Em frente à igreja da Candelária, a marcha parou para ouvir o discurso o do líder estudantil, Vladimir Palmeira, que lembrou a morte de Edson Luís e cobrou o fim da ditadura.
Já em 2013, as manifestações tiveram duas fases, com formas distintas, mas ambas com organização online.
E nas duas manifestações, podemos perceber que o povo estava apoiando os protestos.
Que intelectuais e artistas foram as ruas, e que sim, o nosso país pode sair da inércia.
Graças a passeata dos Cem Mil (1968), a passeata dos Cem Mil (2013) pode acontecer! Porque se hoje caminhamos livremente, divergimos e protestamos sem temer, foi porque GRITARAM em todos os cantos do País. ABAIXO A DITADURA O POVO NO PODER!